Os Óscares foram para...
Abril 27, 2021
Francisco Chaveiro Reis
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Abril 27, 2021
Francisco Chaveiro Reis
Abril 06, 2021
Francisco Chaveiro Reis
Ver Wonder Woman 84 (WW 84) depois de ver a nova versão de Justice League é ainda pior do que já seria ver um filme que parece, ao contrário do que seria de esperar, piorar à medida que a história se desenvolve. A sequência inicial, onde vemos a jovem Diana na sua terra natal (que potencial por explorar) é o melhor do filme que traz a Diana adulta, como a conhecemos (Gal Gadot) para a Washinton de 1984, onde trabalha com “velharias” no Museu Smithsonian. É lá que conhece os dois vilões sem sal do filme, Lord (Pedro Pascal), um homem de negócios sem sucesso e Barbara Minerva (Kristen Wiig), sua nova colega no museu. Eis que aparece um amuleto milenar que concede desejos, tornando num ápice Lord num homem rico e influente e Minerva numa supermulher, mesmo que os desejos tenham um preço a pagar. E cabe a Diana/Wonder Woman salvar o dia, mesmo que para isso tenha que renunciar ao seu desejo e despedir-se, mais uma vez de Steve (Chris Pine). Diana merece mais e nós também. Já se sabe que a Marvel vence a DC no cinema, partida após partida, mas assim, é pedir uma goleada.
Julho 13, 2020
Francisco Chaveiro Reis
Cerca de quatro meses depois, regressei ao cinema para ver Wasp Network, um filme de espiões, baseado numa história verídica. No início dos anos 90, quando se pensava que a queda da União Soviética teria efeito dominó no regime de Fidel Castro, muitos desertaram para os Estados Unidos, em especial para Miami. É o caso do protagonista Rene (Edgar Ramirez), piloto, que deixa para a trás a mulher, Olga (Penélope Cruz) e a filha, de seis anos. Ajudado por uma associação de desertores cubanos, começa a trabalhar para eles a detetar aqueles que vão fugindo de Cuba em embarcações rudimentares, ajudando-os a chegar aos EUA, onde os espera uma vida melhor, com um olho posto no derrubar de Fidel. Pouco depois de Rene, também Juan Pablo (Wagner Moura), deserta, a nado e junta-se aos pilotos que querem fazer algo por Cuba. Mas nada é o que parece e nem sempre sabemos quem está de que lado. Numa história com aviões abatidos, explosões em hotéis e muito mais, brilham, ainda, Gael Garcia Bernal, como nome central da tal Wasp Network ou a bela Ana de Armas. Sem ser o filme do ano, é um filme interessante que conta uma história pouco conhecida e se debruça sobre uma época de Cuba, pouco retratada.
Junho 01, 2020
Francisco Chaveiro Reis
Quando, em 2008, Mumbai foi o sangrento epicentro de um ataque terrorista onde 164 pessoas foram assassinadas e mais de 300, foram feridas, o luxuoso hotel Taj Mahal ficou para a história graças à coragem dos seus funcionários. Seguindo a sua filosofia de que o hospede é Deus, os funcionários não abandonaram o hotel durante o ataque e mesmo sob perigo de vida continuaram sempre a zelar pelo bem-estar dos seus clientes. Arjun (Dev Patel), empregado de mesa e Oberoi (Anupam Kher), renomado chef, estiveram entre aqueles que mais se arriscaram para salvar a vida a diversos hospedes. Sempre no mesmo ambiente – dentro do hotel – o filme consegue escapar quase sempre ao inevitável tédio, contando uma bonita história de bravura, contrastante com a cobardia dos assassinos a sangue frio.
Maio 31, 2020
Francisco Chaveiro Reis
Gonçalo Galvão Teles e Jorge Paixão da Costa revisitam a Batalha de La Lys, em plena Grande Guerra, para lembrar que nem tudo foi atraso de vida e humilhação. Entre os "lanzudos" enviados para a frente de batalha, encontravam-se homens de coragem e um - Aníbal Milhais - que foi considerado herói pelos portugueses e aliados. Se a evolução do cinema português, em termos visuais, é evidente neste filme, há ainda caminho a percorrer em termos de som e sobretudo de construção da narrativa. Lá chegaremos. Com boas tentativas, como esta.
Abril 30, 2020
Francisco Chaveiro Reis
A Herdade, filmado por Tiago Guedes, começa a conquistar na primeira cena, graças a uma fotografia fabulosa que nos acompanhará até ao fim (aquela cena escura do cavalo e do cavaleiro, no chão é uma cena clássica instantânea). Logo na primeira cena, percebemos o tom duro da narrativa. Um homem enforcado, um homem que o observa e um miúdo que deve aprender uma lição sobre a finitude. Está apresentado o filme que tem dado nas vistas e que já cheira a Oscar (feliz, o título inglês, “The Domain”).
João Fernandes (Albano Jerónimo), o tal miúdo, já crescido, é dono de uma ampla herdade (Comporta) no Portugal de 1973. É duro com o filho, Miguel, dos seus 3 ou 4 anos; é distante com a mulher, Leonor (Sandra Faleiro), filha de um general do regime e é firme, mas justo com os homens e mulheres que trabalham as suas terras. Joaquim (mais uma bela interpretação de Miguel Borges) é o seu fiel escudeiro. João vive apenas para as suas terras, herança do pai, duro como ele, e que quer deixar ao filho que já adivinha não ser duro como ele. Mas, em plena ditadura, um latifundiário de destaque como ele, é assediado para dar mostras públicas de apoio ao regime.
Numa das melhores cenas do filme (subtil, como na rádio aparece uma conhecida canção e comos e nada fosse, passa pelo carro de João, uma coluna de militares), a revolução chega e a vida de João pode mudar. Os sogros, outrora snobes, precisam dele e os empregados, outrora servis, são influenciados pelo comunismo. A família começa aos poucos a fugir-lhe.
Corta para os anos 90. João, mais velho, tenta manter a herdade contra os bancos; os empregados vão indo à sua vida, a mulher parece cada vez mais infeliz, Miguel é o resultado da dureza com que foi tratado e Teresa, bebé nos anos 70, tem mais interesse no filho de Joaquim no que no resto da família. João lida com a perda do mundo em que cresceu, numa interpretação soberba de Jerónimo, num fresco dos anos 70 e 90, subtil mas certeiro.
Abril 24, 2020
Francisco Chaveiro Reis
Foi Palma de Ouro em 2019, brilhou nos Óscares de 2020 e foi um sucesso de bilheteira, um pouco por todo o mundo, a começar pelo seu país – Coreia do Sul – onde é o filme mais visto de sempre. Parasitas, feroz crítica social, é um filme a ver e rever.
Melhor filme do coreano Bong Joon-ho (The Host, Snowpiercer ou Okja) até ao momento, Parasitas, apresenta-nos uma família coreana (pai, mãe, filho e filha), paupérrima, que vive numa cave onde não é raro verem bêbados a fazer as suas necessidades e que vai subsistindo à custa de biscates e de muita “ratice”. Desempregados, pai e mãe parecem conformar-se com a sua sorte enquanto que os filhos se deixam andar, mais preocupados com apanhar wifi de um vizinho, do que com a sua dignidade.
Um dia, num golpe de sorte, um amigo do filho, escancara-lhe as portas da casa de uma família rica. A mãe rica, alheada do mundo, deixa-se impressionar pelo filho pobre e logo o contrata. A filha rica, essa, fica à mercê do charme do novo explicador cujo salário é a salvação da família. Mas qualquer Homem quer mais. O filho rico também precisa de quem o ajude e o filho pobre logo infiltra a filha pobre na casa. É o segundo salário. Quando já deixamos de ter pena da família pobre, os esquemas sucedem-se e pai e mãe pobres também já trabalham para a família rica. Jackpot. E a moralidade não entra aqui, se não, num pequeníssimo rebate de consciência do pai, quando pensa alto naqueles que deixou pelo caminho.
Sempre risível, mas sempre afiado na crítica à amoralidade, distribuição de riqueza e vício do digital. Parasitas está cheio de voltas e reviravoltas sem que os ricos pareçam ser muito afetados. São os parasitas que lutam pelo direito a parasitar.
Abril 23, 2020
Francisco Chaveiro Reis
Em 1996, quando Atlanta recebia os Jogos Olímpicos, Richard Jewell destacava-se, primeiro como herói, depois, como vilão. Jewell, segurança, valorizou uma mochila abandonada que viria a explodir, minimizando os estragos. Ganhou logo dimensão mediática, rivalizado com as estrelas olímpicas de então. Mas o polícia falhado, com excesso de peso que vivia com a mãe, acabou por estar no centro de uma investigação do FBI que o quis ver como culpado de ter colocado a bomba que descobriria, para ser fabricar como herói. É a jornada para provar a sua inocência, que o olhar maduro e certeiro de Clint Eastwood traz aos cinemas com “O caso de Richard Jewell”. Paul Walter Hauser é Richard, muito bem acompanhado por Sam Rockwell como seu advogado, Watson Bryant e Kathy Bates como Bobi Jewell. Jon Hamm faz de agente do FBI, responsável pelo caso e Olivia Wilde, de primeira jornalista responsável por apontar Jewell como vilão. Eastwood assina, a meu ver, o seu melhor filme desde Invictus, passando este, à frente de Correio de Droga, Milagre no Rio Hudson ou Jersey Boys, continuando na sua série de heróis americanos menos óbvios.
Abril 21, 2020
Francisco Chaveiro Reis
É de problemas de pele de que se fala em Skin, filme de 2018 do israelita Guy Nattiv. A pele dos outros, que não é alva e a quem os neonazis do Indiana prometem “queimar o solo”. E a pele dele. Bryon Widner, Babs para os irmãos do Vinlander Social Club.
A pele dele está tatuada em todo o lado, cara incluída, com símbolos de ódio que fazem com que a vida normal se afaste dele. E só ultrapassando estes problemas de pele, é que Widner, pessoa real, se mudou para o lado dos bons. É esta jornada, do abandono de 16 anos de vida com os “feios, porcos e maus”, a que Jamie Bell, dá o corpo.
Babs, contou com a ajuda de uma mulher (faz dela, uma Danielle Macdonald, em grande forma), pela qual se apaixonou e o ajudou a ter uma vida “normal”. Por ela, casa e forma uma família. Por ela, que já experimentara e não gostara de uma relação com um neonazi. E contou com um ativista para os direitos raciais, através do qual conseguiu financiamento para remover as suas tatuagens e um acordo com as autoridades.
Funcionam como expiação dos pecados e como metáfora da limpeza que Bryon quis na sua vida. Vida essa que, entre os 14 e os 30 anos, foi feita num grupo neonazi de uma certa América rural, onde a pobreza é aliada dos recrutas (às tantas, um novo “irmão” confessa ter sido a fome a fazer com que se juntasse ao clube).
Abril 20, 2020
Francisco Chaveiro Reis
Estamos em 1917, nas trincheiras inglesas, em França. Dois soldados jovens e exaustados são chamados à presença de um general. Até à manhã seguinte, menos de vinte e quatro horas depois, devem entregar uma mensagem que salvará a vida a quase dois mil soldados, incluindo o irmão mais velho de um deles. Esta é a premissa de 1917, o mais recente de Sam Mendes, que acompanha a jornada de Blake (Dean-Charles Chapman, o Tommen de Game of Thrones) e Schofield (George McKay) por trincheiras, campos, aldeias e vilas abandonadas e bombardeadas e por todos os perigos da guerra, por vezes em peripécias pouco credíveis, mas sempre temperadas com a crueza da guerra.
Numa missão quase impossível que faz lembrar O Resgate do Soldado Ryan, 1917 é menos gráfico, ainda que o seja bastante (às tantas, Blake, assustando com um cadáver acaba por meter a mão no peito aberto de outro). Se a história é interessante e faz com o espetador se torça na cadeira até ao fim, é do ponto de vista cénico que 1917, nos ganha. Com uma camara fiel, sempre colada à reação da dupla de mensageiros e vários planos únicos, sentimo-nos no papel dos protagonistas. Sentimos desconforto ao deslizarmos pela terra e pela lama; sentimos fome e cedo e sobretudo, na cena mais bela do filme, sentimos o medo e admiramos a beleza de uma vila francesa quase desfeita, apenas iluminada momentaneamente pelo bombardeamento.
1917 é um dos filmes do ano e um dos melhores filmes de guerra dos últimos anos. E ainda tem Colin Firth, Mark Strong, Benedict Cumberbatch ou Andrew Scott a fazer pequenas mas decisivas aparições.
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