Soneto Terceiro
Fevereiro 28, 2016
Guilherme Diniz
«Inda mal porque houve tempo
e porque tudo foi terra.» | Bernardim Ribeiro
Revejo minha casa neste sol
De verão. Estive aqui. Era criança.
Quem agora o dirá? Eu, a terra, o pó?
Espelhos, ninfas e vogais e danças
Que vêm de longe, dos pomares: nada
Por espólio, só a cólera branda
Das estrelas em sonho anunciada.
Era menino, sombra e esperança.
Eram vivas as memórias e nomes,
Ouvidas entre conchas e ecos,
Lentas como um rio que ferve e some.
Espero cá, no tempo caído à terra
Que findo ainda respira. Nada peço.
A noite escorre; o dia encerra.