O Voo do Colibri

Passados 75 anos sobre a sua morte, Adolf Hitler, uma das figuras mais macabras da história, continua a despertar a curiosidade da Humanidade. E a vender livros. É provável que isso se deva ao facto, da sua ideologia, inumana, continue a ter seguidores. É ainda mais provável que todos os outros, a maioria, queira saber como é possível que o Holocausto tenha acontecido.

“As Provadoras de Hitler”, livro da italiana Rosella Postorino conta a história de mulheres simples do campo (menos, uma), chamadas diariamente a provar a comida que Hitler comeria a cada refeição. A ideia era simples e tinha sido usada antes por inúmeras figuras de poder: evitar o envenenamento. E, apesar de correrem risco de vida, aquelas mulheres, alemãs supostamente nazis, conseguiam ter acesso aos melhores alimentos, numa altura de penosa fome.

No centro da trama está Rosa, berlinense de gema, órfã, que se muda para o campo para viver com os sogros enquanto o marido combate na frente. Diferente das companheiras, Rosa esforça-se por se enquadrar na nova realidade que a leva três vezes ao dia ao esconderijo campestre de Hitler. O curioso é que Hitler nunca “aparece” no livro, sendo apenas descrito pela boca de outros, amado por uns, gozado por outros, mas sempre de forma indireta. O Führer é uma sombra ao longo de todo o livro.

Inspirada numa história real, a vida de Rosa gera simpatia, na medida em que é uma alemã que perdeu a mãe na guerra, tem o marido na frente e passa fome, mas gera igual antipatia, na medida em que o seu trabalho diário visava a sobrevivência de Hitler, mesmo que ela não fosse simpatizante do nazismo. Mais difícil de explicar, será a forma como se aproxima de um oficial das SS, entretanto chegado à Toca do Lobo. Tal como em qualquer boa história, nesta, que até é verídica, nada é preto ou branco, há sempre cinza no meio.