A rapariga que viveu duas vezes (2019)
Maio 01, 2020
Francisco Chaveiro Reis
Com três volumes da Saga Millennium, escritos e entregues, Stieg Larsson, morreu. A história ficou a meio (ou nem isso, já que se falava em 10 volumes) mas as personagens da hacker punk, Lisbeth Salander e do jornalista intrépido Michael Blomkvist, tornaram-se imortais e galgaram para o cinema sueco e depois, norte-americano. Noomi Rapace ganhou projeção internacional ao fazer de Lisbeth e Rooney Mara e Claire Foy também lhe vestiram a pele. Já a pele de Michael, já foi de Michael Nyqvist, Daniel Craig e Sverrir Gudnason.
Mais do que a sua própria obra, Larsson abriu espaço para que dezenas de autores nórdicos invadissem o mercado livreiro com narrativas semelhantes, cheias de anti-heróis (como Harry Hole, polícia durão das páginas de Jo Nesbo) ou heróis improváveis (como a escritora Erica que ajuda o marido Patrick a fazer o seu trabalho policial nas páginas de Camilla Lackberg) e crime hediondos misturados com o dia a dia de famílias nórdicas normais (há sempre alguém a aquecer bolos e a fazer café ou chá).
A saga Millennium chega ao fim, ao sexto volume, tendo David Lagercrantz (jornalista e biógrafo da estrela nacional, Zlatan Ibrahimovic), como autor dos três últimos volumes (contra a vontade da companheira de Larsson, que perdeu a batalha legal). “A rapariga que viveu duas vezes” é, como os dois volumes anteriores, um romance decente e eficiente que, com outras personagens, seria uma leitura interessante. Assim, sofre sempre (e perde) com a comparação, mas permite-nos que visitemos e nos despeçamos de Lisbeth e Michael. E isso já não é pouco.