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O Voo do Colibri

«O Colibri não é apenas um pássaro qualquer, o seu coração bate 1200 vezes por minuto, bate as suas asas 80 vezes por segundo, se parassem as suas asas de bater, estaria morto em menos de 10 segundos. Não é um pássaro vulgar, é um milagre.»

A Herdade (2019)

Abril 30, 2020

Francisco Chaveiro Reis

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A Herdade, filmado por Tiago Guedes, começa a conquistar na primeira cena, graças a uma fotografia fabulosa que nos acompanhará até ao fim (aquela cena escura do cavalo e do cavaleiro, no chão é uma cena clássica instantânea). Logo na primeira cena, percebemos o tom duro da narrativa. Um homem enforcado, um homem que o observa e um miúdo que deve aprender uma lição sobre a finitude. Está apresentado o filme que tem dado nas vistas e que já cheira a Oscar (feliz, o título inglês, “The Domain”).

João Fernandes (Albano Jerónimo), o tal miúdo, já crescido, é dono de uma ampla herdade (Comporta) no Portugal de 1973. É duro com o filho, Miguel, dos seus 3 ou 4 anos; é distante com a mulher, Leonor (Sandra Faleiro), filha de um general do regime e é firme, mas justo com os homens e mulheres que trabalham as suas terras. Joaquim (mais uma bela interpretação de Miguel Borges) é o seu fiel escudeiro. João vive apenas para as suas terras, herança do pai, duro como ele, e que quer deixar ao filho que já adivinha não ser duro como ele. Mas, em plena ditadura, um latifundiário de destaque como ele, é assediado para dar mostras públicas de apoio ao regime.

Numa das melhores cenas do filme (subtil, como na rádio aparece uma conhecida canção e comos e nada fosse, passa pelo carro de João, uma coluna de militares), a revolução chega e a vida de João pode mudar. Os sogros, outrora snobes, precisam dele e os empregados, outrora servis, são influenciados pelo comunismo. A família começa aos poucos a fugir-lhe.

Corta para os anos 90. João, mais velho, tenta manter a herdade contra os bancos; os empregados vão indo à sua vida, a mulher parece cada vez mais infeliz, Miguel é o resultado da dureza com que foi tratado e Teresa, bebé nos anos 70, tem mais interesse no filho de Joaquim no que no resto da família. João lida com a perda do mundo em que cresceu, numa interpretação soberba de Jerónimo, num fresco dos anos 70 e 90, subtil mas certeiro.

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