Se Terra Americana fosse apenas a história de como Lydia e o seu filho Luca fogem de um cartel do narcotráfico, rumo aos EUA, deixando para trás dezasseis familiares mortos, já seria um livro interessante e, provavelmente, um best-seller, mas o livro de Jeanine Cummins. Mas é isso e muito mais.
No centro da ação está uma pacata família de Acapulco, uma cidade tradicionalmente turística, agora transformada em terreno de combate de carteis. Lydia, a mãe, tem uma livraria; Sebastián, o pai, é jornalista especializado em crime organizado e Luca, o filho, é uma criança como outra qualquer. Só quando um churrasco de família é interrompido por um massacre é que Lydia percebe que o último artigo do marido teve um impacto inesperado. Escondida na casa de banho com o filho, Lydia tem que esquecer a dor de perder marido, mãe e resto da família e põe-se em fuga. Afinal, atrás de si, tem o mais poderoso dos carteis, liderado por Javier, um homem que frequenta a sua livraria, charmoso e com quem mantem uma espécie de romance platónico, pelo menos até conhecer a sua verdadeira identidade.
Já seria uma história marcante, mas Terra Americana é verdadeiramente sobre todas as histórias que Lydia encontra pelo caminho. A bordo da Besta, um comboio de mercadorias onde se entra, em movimento com perigo de perder um braço, uma perna ou a vida, Lydia vai tentando seguir em frente. É na Besta e nas suas paragens que conhece duas irmãs a quem a beleza só traz o fardo da violação constante; um menino pouco mais velho do que o filho, que vivia sozinho no meio do lixo ou um adolescente que tenta fugir do mesmo cartel que procura Lydia. E há ainda a viagem a pé, na fronteira, até chegar aos EUA, onde há ainda mais histórias tristes.
Um livro duríssimo que mostra as lutas diárias daqueles que são obrigados a deixar as suas casas apenas para serem mal recebidos.