Feira do Livro 2020: as minhas escolhas
Agosto 31, 2020
Francisco Chaveiro Reis
Balada para Sophie - A nova graphic novel, acabadinha de sair, promete ser a melhor, até agora, da genial dupla Filipe Melo e Juan Caviá. O objeto livro já merecia a compra, tal a beleza da edição da Tinta da China, mas o traço de Caviá e a sensibilidade de Melo, fazem com que valha ainda mais a pena, gastar mais de trinta euros num livro que, inevitavelmente, demora muito menos a ler do que um em prosa. Depois de uma incursão pela Guerra Colonial (Os Vampiros); a busca pela tarte perfeita no Texas e uma passagem pela Berlim da Segunda Guerra Mundial (Comer/Beber), a dupla apresenta agora a história de “dois jovens pianistas, nascidos numa pequena vila francesa, cruzam-se num concurso local. Julien Dubois, o herdeiro privilegiado de uma família rica, e François Samson, o invisível filho do responsável pela limpeza do teatro”.
O Árabe do Futuro, 4 – Outra graphic novel de qualidade superior, a quarta parte da biografia do autor, Riad Sattouf, centra-se nos anos de 1987 a 1992. Filho de pai sírio e mãe francesa, Riad passou a infância e adolescência no Médio Oriente e é esse choque de culturas e mentalidades que conta. Neste volume, o menino de cabelo loiro é já adolescente, está cada vez mais dividido entre as culturas francesa e síria e vê a relação dos pais cada vez pior. O pai mudou-se agora sozinho para a Arábia Saudita e virou-se para a religião, provocando desgaste na mãe, farta de tantos anos a seguir o marido e com vontade de regressar a França.
Verões Felizes, 1 e 2 – Mais duas graphic novels (a minha tendência para esta feira). Zidrou e Jordi Lafrebre apresentam dois volumes com histórias simples – férias em família – mas carregadas de sensibilidade e nostalgia.
Em tudo havia beleza – Considerado um dos melhores e mais belos livros de 2019, a obra do espanhol Manuel Vilas, é profundamente autobiográfica: “Impelido por esta convicção, Manuel Vilas compõe, com uma voz corajosa, desencantada, poética, o relato íntimo de uma vida e de um país. Simultaneamente filho e pai, autor e narrador, Vilas escava no passado, procurando recompor as peças, lutando para fazer presente quem já não está. Porque os laços com a família, com os que amamos, mesmo que distantes ou ausentes, são o que nos sustém, o que nos define. São esses mesmos laços que nos permitem ver, à distância do tempo, que a beleza está nos mais simples gestos quotidianos, no afecto contido, inconfessado, e até nas palavras não ditas”.