Lanzarote (2000)
Janeiro 12, 2017
Francisco Chaveiro Reis
O francês Michel Houellebecq conquistou-me em 2015, com Submissão, onde imaginava que França seria controlado por um partido islâmico que faria valer os seus ideais. Desde logo se notava a sua escrita mordaz e a sua obsessão por personagens autobiográficas profundamente cínicas, egoístas e com um apetite sexual voraz. Em Submissão, na Paris de 2020, François, um professor universitário que gosta mais de ter relações com alunas do que de outra coisa menor como ensinar, vê-se a braços com a escalda do Partido da Fraternidade Muçulmana, chegando a fugir da capital francesa.
Em Lanzarote, chegado agora às livrarias portuguesas, com 17 anos de atraso, Houellebecq, dá voz mais um homem ao qual pouco interessa na vida. Aborrecido da sua vida francesa, procura umas férias que o seu pequeno orçamento possa pagar. Calha-lhe a “lunar” Lanzarote (nada desconhecida entre os portugueses, como será da maior parte dos leitores do resto do mundo, não ibéricos) onde sente um misto de emoções: curiosidade sexual por um casal de lésbicas alemãs; curiosidade sobre um polícia belga divorciado e melancólico; surpresa agradável pela beleza da ilha e ainda algum desprezo desconcertante por situações ou seres vivos.
Se por um lado, expõe o ridículo de certas questões da existência humana (a forma como descreve os critérios ingleses de escolha de férias é sinal disso), por outro, relata tudo com uma voz negra que nos dá vontade de rir longamente. De nós.