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O Voo do Colibri

«O Colibri não é apenas um pássaro qualquer, o seu coração bate 1200 vezes por minuto, bate as suas asas 80 vezes por segundo, se parassem as suas asas de bater, estaria morto em menos de 10 segundos. Não é um pássaro vulgar, é um milagre.»

Quatro Haiku

Janeiro 31, 2016

Guilherme Diniz

Espuma do mar,
Abraços infinitos.
Barcos a voltar.

Chegamos à terra,
À praia de aguas tantas.
O mar que navega.

Compassos e luas.
No zodíaco, os dias.
Que horas são as tuas?

Me acompanha
A sorte de ouro: viver,
Morrer em Espanha.

Arvo Part e a Poética do Silêncio

Janeiro 30, 2016

Guilherme Diniz

 

Arvo Pärt subverte o silêncio — ele não é ausência; é transfiguração. O silêncio é cúmplice, uma voz gêmea que mais e mais se esconde e, por isso mesmo, mais e mais se deixa entrever. Como um novelo de sensações, cores e sabores, tudo é muito tênue, frágil. Mas há vigor e ausência de frouxidão. Não há adiposidade de dramas, senão tudo na dosagem precisa, uma alquimia perfeita que do nada faz-se ouro. Máxima atenção aos cantos, aos seus choros, aos seus nadas. Como um poeta simbolista que mais sugere o objeto que o descreve em pormenores, Pärt sabe precisamente o que quer: seu realismo é sobretudo imaginativo. Tudo é magia, um conto de fadas entre sombras que descansam sobre a terra. E como um longo longo poema estendido sobre a esfinge dos anos, uma epopéia de povos e esquecimentos entre Ozymandias e reinos abandonados, suas composições fazem o reviver de reminiscências e memórias. Desse assombro, o que nos resta é apenas um sol fulgurante, eco inatingível que faz repousar a paz eterna sobre os homens. 
 

O Discurso Musical de Henryk Górecki

Janeiro 23, 2016

Guilherme Diniz

Em Henryk Górecki notamos um percurso musical acidentado, indo da mais extremada atonalidade ao que poderia ser identificado como tendência neo-romântica. Partindo da constante utilização do pontilhismo weberiano — somado à fixação quase obsessiva pelos timbres — aos poucos foi se aproximando, nos idos de 1960, de compositores como Luigi Nono, Karlheinz Stockhausen, Krzysztof Penderecki e, principalmente, Pierre Boulez. Em razão disso, suas composições sempre foram identificadas por possuírem arquétipos que moldam e universalizam não apenas melodias e harmonias, mas também o instinto de ruptura e objetividade artística. 

Todavia, o esgotamento daquelas experiências-limite (autenticamente serialistas) fez com que Górecki, nas décadas seguintes, fosse cada vez mais se adiantando às formas musicais tradicionais. Importante ressaltar que o tradicionalismo das composições das décadas de 1960-70 é apenas aparente e superficial; dir-se-ia provocativo e construtor. São obras cuja composição pressupõe o emprego de formas móveis, autênticas work in progress, que não raro negam a hierarquia entre compositor, intérprete e ouvinte. O que podemos perceber nas composições de Górecki é que ele faz a música aproximar-se, obrigatoriamente, de um questionamento não apenas quanto à sua forma, mas também quanto ao seu conteúdo discursivo.

Paralelamente a isso, põem-se elas a indagar sobre a imposição de uma visão hegemônica da história marcada pela justificação da impessoalidade e mecanização. Górecki oferece, em contrapartida, a ressurreição da via humanista, qual seja, da retomada da auto-consciência individual, onde muitas das suas obras buscam implicações de ordem ética e estética, ambas definidas contextual e historicamente. Essa Weltanschauung é importante de ser compreendida porque é a mesma que influenciou nomes como Kazimiers Serocki (1922–1981) e Tadeuz Baird (1928–1981): é o tempo da insurreição de Varsóvia, dos campos de prisioneiros.

 

É a possibilidade de recuperação das formas naturais de um universo desencantado — ora representado na imagética do Holocausto (Sinfonia nº 3), ora na inserção de temas e referências à sua pátria, a Polônia. Se o eixo político sobre o qual o século XX definiu-se foi a bipolaridade, musicalmente, hoje, somos capazes de perceber que essa janela da história permite o acesso a inúmeros modelos pautados na fusão entre o universal e local. São matizes culturais próprios que se aventuram pelo mundo afirmando sua identidade e nível, e que raramente correspondem às convenções preexistentes.

The Revenant (2015)

Janeiro 22, 2016

Francisco Chaveiro Reis

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Sigo com admiração a carreira de Alejandro Gonzázez Iñárritu desde que vi Amor Cão, em 2000, protagonizado por então desconhecido Gael Garcia Bernal. Fiquei depois arrebatado por 21 Gramas (2003) e bastante convencido com Babel (2006). O mexicano filma o sofrimento humano extremo com mestria e faz uso superior da fotografia e de técnicas únicas de filmagem (os planos diabólicos de Birdman mostram bem isso). Regressa agora com um filme de época, The Revenant, piscando o olho à câmera contemplativa do mestre Malick (muitas vezes me lembrei do quase ignorado O Novo Mundo) e dando o seu toque de sofrimento. Aliás, Glass (Leo Di Caprio com Óscar garantido), sofre como poucas personagens terão sofrido na história do cinema. Em quase três horas, os espetadores estão tensos na sua cadeira, à espera da próxima sangrenta desventura do protagonista. Mas voltemos atrás. Nos anos 1820, um grupo de caçadores de peles, algures nas Montanhas Rochosas, já com um bom saque, prepara-se para voltar para o seu quartel general quando são atacados por índios (numa história paralela, um chefe índio procura a filha, raptada). Os 45 homens, transformam-se em 10, que fogem à justa e escondem as peles. Glass acaba por encontrar e ser atacado violentamente por um urso (cena arrepiante). Estropiado, é abandonado pelos companheiros. Começa aqui a sua luta para sobreviver e regressar à civilização. Tendo principal motivação a vingança contra Fitzerald (Tom Hardy, mais uma vez, perfeito), Glass tudo enfrentará para regressar.

 

 

Soneto Primeiro

Janeiro 20, 2016

Guilherme Diniz

Death, thou shalt die.| John Donne

 

Tive no peito sal que não era mar.
Dizia-me coisas que não sei, inverno
d’alma, infausto e crepuscular.
Era sonho de pedras, aberto

 

caminho de dois mundos, desdobrado
como destino, franjas de terra nua. 
Era febre o barro da encosta, asco
de faces e dores que jamais se curam.

 

Secreto era o fundo que refletia
mil sóis de treva, único interprete
com que me via, sacudido na viva

 

carne final do Juízo, redimida
entre luas e sortes, filho que pede
vida entre a morte, a paz definitiva.

A Visita (2015)

Janeiro 19, 2016

Francisco Chaveiro Reis

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Night Shyamalan começou a sua carreira em grande com O Sexto Sentido (1999), O Protegido (2000), Sinais (2002) ou A Vila (2004). Depois, perdeu gás. A Senhora da Água (2006) ainda era interessante mas O Acontecimento (2008), O Último Airbender (2010) ou Depois da Terra (2013), nem isso. O único produto de qualidade a que o seu nome esteve ligado nos últimos 11 anos foi Wayward Pines, série de suspense que produziu que realizou num dos episódios.

Tudo isto para dizer que em A Visita (2015) nada melhora. Shyamalan conta uma história pouco sólida, sem grandes surpresas nem desenvolvimentos dignos de um mestre do suspense como ele foi e pode voltar a ser. Dois miúdos, Tyler e Becca, vão passar uma semana a casa dos avós. A mãe, que fugira de casa em adolescente, não mais quer ver os pais e manda os petizes sozinhos para lhes dar a oportunidade de conhecerem as suas raízes. Mas, aparentemente simpáticos, os dois idosos começam a revelar comportamentos estranhos, principalmente durante a noite…

 

Um Momento de Perdição (2015)

Janeiro 18, 2016

Francisco Chaveiro Reis

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Dois amigos, Laurent (Vicent Cassel) e Antoine (François Cluzet) levam as suas filhas adolescentes para umas férias de verão tranquilas. As jovens e belas Louna (Lola Le Lann) e Marie (Alice Isaaz) passam os dias a tomar banhos de sol e as noites em discotecas, como seria de esperar. Até ao dia em que Louna começa a olhar para o pai da amiga com outros olhos, despindo-se à sua frente e beijando-o. Esses segundos de hesitação vão perseguir Laurent o resto do verão, à medida que Louna se diz loucamente apaixonada, já que se arrisca a perder a confiança da sua filha e do amigo. Uma interessante versão de Lolita, onde Lola Le Lann cumpre na perfeição o papel de pequena femme fatale.

O Escultor (2015)

Janeiro 18, 2016

Francisco Chaveiro Reis

 

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 O momento em que David conhece Meg.

 

David Smith ainda não chegou aos 30 anos e já se acha um falhado. Escultor, vive longe dos seus melhores dias, após ter gozado de alguma fama. Sem dinheiro ou grande inspiração, nós, leitores, vamos encontra-lo deprimido num bar, a beber cerveja no dia dos seus anos. Eis se não quando, junta-se-lhe o seu tio Harry, que não via há muito.

Descobrimos depois que os pais e irmã já morreram e que David está sozinho no mundo, tendo apenas um amigo em Ollie, amigo de infância que trabalha também no ramo da arte. Com um cenário tão solitário, o tio Harry é muito bem-vindo. Mas, o familiar não é quem parece ser. Trata-se afinal d`A Morte, que lhe propõe um negócio: ele, David, pode esculpir o que quiser a partir de qualquer material em que as suas mãos toquem, podendo assim procurar deixar uma marca no mundo. Em troca, só tem mais 200 dias de vida. David aceita.

Acompanhamos então David nesses seus últimos 200 dias, onde, a espaços, cria as suas mais belas esculturas mas onde se apaixona por Meg, levando a que a sua partida seja muito mais difícil.

Uma das melhores graphic novels de 2015, por Scott Mccloud. Imperdível.

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